LENDA XIMANGA: "OS QUEIXADAS BARÉS"

OS QUEIXADAS BARÉS




Andando nas trilhas da Amazônia, precisamente na cidade de Alenquer- Pa, rumo às matas fechadas que escondem mistérios e grandes surpresas, um canto de pássaro pode ser motivo de susto.

A cada passo, mata adentro, temos sempre a leve sensação de estarmos sendo vigiados por alguém: Mãe da Mata, Mãe dos Bichos, Moangá, anhanga-açú, Mapinguari, Matintaperera, Saci-pererê e muitos outros que transformam a nossa imaginação com as surpresas que encontramos a cada momento.

Os índios Barés, ex-habitantes das terras ximangas, quando extinguiram do lugar se tornaram os guardiões da Amazônia, pois os espíritos deles ficaram vagando a mata, para que os invasores que entram na floresta derrubando árvores ou matando os bichos que ainda amamentam os filhotes, sejam punidos.

Os espíritos se transformam nos bichos queixadas, e atacam os inimigos da mata em bandos de até 50 animais, com uma distribuição muito ampla. Machos, fêmeas e filhotes estão sempre juntos e ficam muito irritados e se unem em uma briga quando o assunto é a defesa da fauna e flora.

A responsabilidade é tão grande que os bichos botam para correr até mesmo os outros animais que invadem o território que os protetores consideram seus. E unidos na briga, avançam contra o invasor. Para brigar, todos os porcos avançam em conjunto fazendo um barulhão parecendo estremecer toda a floresta e demonstram tanta ferocidade que muito caçador já teve que ficar horas em cima de árvore, com medo dos porcos queixadas que ficavam embaixo só esperando a hora certa de atacar.

Os Queixadas Abarés, são incapazes de subir em árvores, mesmo um tronco caído é um obstáculo intransponível para o bicho.

Queixadas andam por toda a Amazônia, e esfregam suas costas nas árvores, melam os troncos com uma gordura com cheiro forte, e está pronto o sinal de cheiro para que ninguém invada o território: Queixadas Abarés.

... Certo Senhor, entrou nas matas amazônicas, e foi muito bem recebido pelos habitantes do lugar, mãe da mata observando a chegada do visitante, logo pediu ao bem-te-vi que avisasse os outros animais que ficassem atentos, pois ela estava fazendo a guarda também.

Andando trilha adentro, avistou um pequeno macaco-prego que mamava em sua mãe, e sem um pingo de consideração e respeito pelos bichos, não contou conversa, e deu um tiro em cheio na velha macaca, que caiu de costa nas raízes de um cumaruzeiro.

O pobre macaquinho continuava a mamar em sua mãe que mesmo na agonia da morte, ainda pode amortecer a queda para proteger o seu filhote.

O macaco guariba que estava nos galhos de outra árvore próximo, pode ver a morte da velha macaca prego. A tristeza do bicho, ao ver a mãe abraçar o macaquinho e as lágrimas escorrerem pelos pêlos da cara da pobre mãe, foi mais um motivo de angústia pela injustiça que o bicho passa em seu próprio habitar.

O caçador pegou o macaquinho pelas costas, e arrancando na marra o bichinho que se abraçava com a mãe, fez com que o pequeno ficasse pendurado com a boca no peito da macaca.

O pobre animal fechava os olhos aos poucos, mas mesmo assim levantava lentamente à pata para proteger o filhote, tudo foi inevitável a morte veio e fez a separação dos dois.

O caçador saiu com o bicho agachado nos braços.

O macaco guariba enraivado puxou a espingarda do caçador entregou para mãe da mata, e em seguida subiu no topo mais alto das árvores, e com seu canto alto e entristecedor avisou a todos os bichos da floresta, que sofreram muito com a morte da velha macaca, e imediatamente chamou os Queixadas Barés para o local.

Os protetores Queixadas vinham abrindo caminho na mata, com rangidos de dentes vinham ferozes e enraivados.

Logo avistaram o caçador, e sem piedade avançaram para estraçalhá-lo. Os bichos babavam de raiva ao verem o macaquinho ser levado por um homem.

O homem nunca tinha visto tanto bicho junto, correu dentro as matas e por pouco escapou de levar mordidas dos bichos. Em várias de suas quedas, suas roupas ficaram todas rasgadas. Por sorte encontrou um cipó engatado as arvores, e para sua salvação subiu com pressa.

O Guariba, ainda enraivado, começou a roer o cipó para puí-lo e o homem cair nas bocas das queixadas que olhavam para cima com ansiedade de abocanhar o caçador.

O homem já arrependido de ter matado a macaca, pulou para um galho próximo e ficou lá por cima durante uma semana, os protetores da mata estavam lá embaixo e não cansavam de esperar a hora do homem desistir e se entregar.

Ao cochilar, o caçador escapava de cair dos galhos da árvore. Com muita fome queria se entregar, não aguentava mais tamanho sofrimento.

O Guariba do alto jogava castanha pro macaquinho se alimentar, o bom macaquinho repartiu várias castanhas e de sua boca dava o alimento na boca do caçador.

Muito arrependido, do alto viu o Saci-Pererê passar por debaixo a árvores e rir do seu sofrimento. O Curupira correu muitas vezes pelo lugar, montava num Queixada e saia para vigiar outros lugares da mata, e ordenava que os bichos não saíssem da guarda.

Sem saber o que fazer, pediu perdão ao Curupira, chorou arrependido. O protetor com os pés virados para trás, disse que não poderia fazer nada, pois precisaria conversar com a mãe da mata, para que fosse analisada a questão.

A boca da noite, quando os pássaros se guardavam para dormir passavam por cima das árvores e defecavam na cabeça do caçador.

Para a surpresa do homem a mãe da mata, que é um espírito muito bom, autorizou o pássaro papagaio a ordenar aos Queixadas para se retirarem, pois a situação já estava resolvida, o arrependimento do homem podia ser visto no olhar.

O macaco Guariba adotou o macaquinho, levou para copa onde morava. A mãe guariba o recebeu e deu o que o bichinho mamasse.

O Gavião Real levantou o caçador com as garras e o deixou longe da mata, e proibiu o homem de invadir a mata para fazer o mal com os animais, pois se fato como aquele voltasse a acontecer o homem não se livraria da fúria dos protetores da mata.

A partir daí o homem passou a ver a natureza de forma diferente e se tornou um protetor da fauna e flora.



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