LENDA XIMANGA: "A MENINA SANTA"


LENDA: "A MENINA SANTA"




    Narrativas populares contam que, quando os imigrantes iniciaram as vindas para a Amazônia, eram bastante comuns, pequenas caravelas de diversos lugares ancorarem no porto alenquerense.
Atraídos pelas riquezas naturais como: borracha, café, castanha e outros produtos a serem explorados, muitos visitantes chegaram, estabeleceram e até se naturalizaram Ximangos da seiva verde amarela, não é à toa que encontramos em qualquer parte da Amazônia, pessoas com sobrenomes descendidos de terras estrangeiras.
    Em Alenquer, oeste do estado do Pará, encontramos descendentes de: Italianos, japoneses, portugueses, Mexicanos, Árabes e tantos outros lugares.
    O povo sempre esperava e recebia os visitantes com muita hospitalidade, que é a principal característica de todo alenquerense é ser hospitaleiro.
    Nesta época, aproximadamente no ano de 1925, o barco de nome desconhecido, ancorou em Alenquer, e nesta embarcação havia vários passageiros e tripulantes doentes.
Muitas dessas doenças vinham dos países de origem, e infectavam as populações onde os barcos ancoravam, muitas enfermidades eram transmitidas por ratos e outros animais que vinham nas embarcações.
    Em umas dessas embarcações, vinha uma mocinha filha supostamente de Italianos, talvez de uma família nobre da época.
    A pequena chamava-se Laura Neno Ferraz, e tinha 07 anos de idade, a menina era dócil e era responsável em fazer alegria da tripulação. Com seu semblante encantador, arrancava sorriso de qualquer pessoa, até mesmo dos doentes que estavam na embarcação.
    A mãe de Laura uma mulher muito solidária, sempre auxiliando na alimentação e saúde dos tripulantes. Onde a mãe estava Laura a acompanhava. Mesmo sempre curiosa nunca soube para onde os doentes sumiam, pois pelo acordo do pai com sua mãe decidiram que Laura nunca saberia o triste destino dos doentes.
    Laura, sempre achou que os doentes haviam melhorado, e a noite enquanto a menina dormia, eles saiam da embarcação.
    Quando os pais não estavam por perto, Laura corria em direção ao porão do barco onde ficavam trancados os doentes abandonados para que não transmitissem a doença para os demais.
    Esperando a morte, tremiam com uma forte febre, não falavam uma palavra e nem comiam mais nada. Laura os transmitia energia. Com grande carinho Laura passava as mãos nas manchas escuras da pele dos doentes, logo o mal-estar e a febre acalmavam.
    O aperto de mão de Laura servia de remédio e consolo, muitos até melhoravam quando tinham o ombro amigo de Laura para consolá-los.
    Os doentes sofriam muito, além de estarem infectados com a “peste negra”, o que mais os machucava era o preconceito e o desprezo, pois se atribuía, também, a disseminação da doença as pessoas que estariam contaminando as portas, bancos, paredes, com unguento pestífero. Na época era comum muitos suspeitos serem queimados vivos ou enforcados.
    Durante a noite quando tudo estava silêncio, quando a preocupada e boa menina dormia tranquilamente, o fato do sumiço acontecia.
    Para que as crianças de bordo, não sofressem com as fortes cenas ao verem qual seria o destino dos enfermos, os mais idosos decidiram que os mortos ou os que estavam em estado terminal seriam jogados ao rio, para lá se decompusessem. Terra a vista não havia para enterrá-los, e os corpos não podiam ficar na embarcação, pois a todo o momento morriam dezenas de pessoas, os sobreviventes não sabiam se ainda teriam futuro de vida, mais a força de vontade os fazia seguir.
    Baixando o Rio Amazonas, fato terrível aconteceu, ao amanhecer do dia, todos ficaram mais tristes ainda, o que ninguém esperava estava sendo fato, podia acontecer tudo, menos aquilo, todos podiam ser infectados mais todos queriam protegê-la.
    Como até o momento não sabiam como aquela maléfica doença poderia ser curada, não puderam mudar os fatos.

LENDA XIMANGA: "A MENINA SANTA"
    Laura estava muito febril, mole e gemia muito, seu olhar cansado e baixo fazia lagrimas escorrerem em qualquer face.
    Neste dia não morreu nenhum outro adulto ou criança, passarinhos pousavam e cantavam muito próximo ao manhoso rio Surubiú, afluente do grande Amazonas.
    Peixes estavam inquietos em volta do barco. Laura deu seu último suspiro nos braços da mãe. O silêncio da maré calma se igualou com a cena da embarcação. Como estavam, na Amazônia, em meio à terra de várzeas, encontraram por fim um povoado de gente acolhedora.
    Laura, não foi jogada nas águas, quando o barco foi ancorado, levaram o corpo de Laurinha, como é chamada até hoje pelos alenquerenses, para um lugar distante das residências ribeirinhas e atrás de serras onde na época só podia ser seguido a pé seguindo longo caminho meio ao mato baixo.
Laurinha, está enterrada em Alenquer – PA, e possivelmente foi à primeira ou uma das primeiras a ser enterrada onde hoje está instalado o grande e popular “Cemitério de Santa Maria”.
Dia de Finados, um dos túmulos mais visitados é o da menina Laura. Os populares fazem com antecedência a limpeza e pintura da lápide.
    Presentes para a menina são deixados a qualquer época do ano em cima da sepultura, no início de novembro são inúmeras bonecas e outros brinquedos que a menina Laura ganha, além de velas, ramalhetes, vasos e outros. Tudo para agradecer a graça da doença curada.
Vários ximangos acreditam que Laura intercede pelos doentes, quem pediu foi atendido, por isso todos os anos os amigos de Laura vão aumentando.
    É a fé do povo ximango que se reflete. A sepultura de Laurinha Ferraz está posicionada do lado esquerdo e quase que ao meio do cemitério, e tem a fotografia da menina, e com carinho ainda de seus pais foi construída com muita dedicação.

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