AMIGO DE VERDADE




AMIGO DE VERDADE

_ Amigo... há dias não te via... Mas nada me entristeceu, pois sei que não me esqueceste, nos meus pensamentos sempre sorrias...
            Sei que tens muito dinheiro, mas sempre estás com aquela roupa marrom, se falarem mal tu nem ligas está tudo bem! Pois pra ti o valor que não vale é o financeiro.
            Todo mundo te conhece, todos falam contigo, inclusive eu, e ficas sempre calado, às vezes te olho e estás sorrindo e sei que é porque estou feliz; outras vezes olho e te vejo emburrado, aí sei que alguma coisa errada aconteceu, tem gente que te chama de meu “amigo”, fico até com ciúmes, então, te olho e sorris de novo.
            Sei que tem muita gente que queria ser como foste, inclusive eu...
            És especial, amastes a Deus sobre todas as coisas, repartistes o pão com o irmão, soubestes respeitar, valorizar, ensinar, evangelizar e amar as pessoas, fostes um grande missionário. Obrigado por nos deixar este exemplo de vida.
            Moras no centro da cidade e tua casa é imensa, escutei muito o povo falando, que é a mais linda que já viram pela região.

            Quando criança, entrei até na sala, e lá da porta te vi, estavas lá em cima, achava que não havias me visto. Nunca tinha visto tantos bancos em uma casa, estava muito silêncio, os perfumes das flores exalavam paz e as velas acesas mostravam vida e tranquilidade, saí... Outro dia voltei, mas não estava só, aquela sala cheia de bancos estava completamente lotada, fiquei em pé escorado a uma coluna de concreto, escutei... Todos falavam com voz baixa, mas deu pra perceber que oravam a DEUS, então descobri que tu moras na casa de teu Pai, que é também meu pai e de todo o povo ximango! Sei que cuidas muito bem desta casa e que moras nela há muito tempo, também és o ximango mais velho! NATURALIZADO, né? Porque sei que nascestes em Portugal, mas te transformaste em alenquerense de coração. Sei também que Antônio é teu Pseudônimo, descobri o teu nome verdadeiro, é Fernando Bulhões e que a minha cidade festeja a data do teu falecimento, pois foi a 13 de junho que deixastes este mundo materialmente, para viver ao lado de nosso senhor Jesus!
            E daqui eu te digo:
            _Obrigado, amigo, peço que continues rogando por todo o povo ximango...

Amém...                         


ALÉM NÃO CANSA





...ALÉM NÃO CANSA....

Hoje é a maior festança                             
encheram Além de esperança.
falaram em mudança
mas Além não cansa
continua mansa
parece uma criança
e em sua rede descansa
com seus cabelos em trança.
Ouve calada a falança
mas cheia de confiança
nunca cansa
continua na lembrança
em sua bonança
os seus tempos de dança
calma, espera a cobrança
daqueles que fizeram comilança
enchendo bem a pança
e cheios de ganância
a feriram com uma lança
e com um sorriso de esnobança
Fizeram-lhe uma fiança
Mas Além não cansa
ALÉM QUER alegrança

Para esta Ximangança.

(Flávio Monteles)

DEUS É ALENQUERENSE SEM DÚVIDA!







DEUS É ALENQUERENSE SEM DÚVIDA!

Deus só pode ser Alenquerense!
Fazer uma cidade tão bela
que ninguém quer sair dela.
Quem nasce, quer morrer nela

Vindo aqui, quem é de fora
não quer mais ir embora.
Parece feitiçaria
ou conversa de pescaria!

No início da criação
Deus a fez com sua mão
E nela não colocou furacão
e a protegeu, deixando-a bem longe de vulcão.

Plantou aqui a flora mais bela
Cheiro de rosa sabor de canela
Adolescente cidade
futuro prosperidade.

É a cidade em que nasci, é meu relicário...
Tem jeito de menina, por natureza é um cenário
Diretor da cena é Santo Antônio
O chefe do matrimonio.

 Deus a fez pequenininha
 da Amazônia a caçulinha
 10 de junho ta preparado
  aniversário comemorado

13 de junho é satisfação
a maior festa do povão
roupa nova é tradição

para festa do TONHÃO.

(Flávio Monteles)

TERRA XIMANGA





TERRA XIMANGA
Minha terra progrediu
Feliz de quem a viu, teve cinema, teve seresta.
E hoje o que nos resta?
Se isso era chatice em outrora,
Preferia que fosse agora.

Hoje, já cresceu
 e o seu aeroporto até morreu.
Não passei os bons momentos
Mas não aguento, mas tento
esquecer a diferença dos tempos.

Hoje regrediu...
Juventude se diverte
Que vergonha!...
Fumando maconha.

Isso é moderno?
Precisamos de ajuda,
O que queremos mais?
Quase nem temos paz
E quando temos,

somos capazes de vendê-la em R$ (Reais).

PRECES A SANTO ANTONIO DE ALENQUER





                                                                                                     


“PRECES A SANTO ANTONIO”
“EITA TERRINHA!
Santo Antônio é Santo bom!
É santo protetor,
Há de me livrar
desse povo falador!


                        Santo Antônio é Santo bom!
                        Fez o jumento ajoelhar
                        Há de fazer também
A boca do fofoqueiro c alar.


Santo Antônio é Santo bom!
Tomou sopa envenenada
Há de manter também
A boca desse povo calada.


                        Santo Antônio é Santo bom!
                        Dava pão, e não tinha a quem ver
                        Há de fazer também
                        O caluniador a língua morder.

SOU DE ALÉM






SOU DE ALÉM
Sou de Além,
Terra hospitaleira, menina mulher
Ainda bebê acolheu a tribo Abaré.
Hoje com muitos filhos, agora já crescida
Por Antônio é protegida.
Sua pele é toda traçada,
por casa, praça e avenida
olha para as águas e se sente ofendida
em seu coração abriu uma ferida
Por se sentir um pouco esquecida
Embora abatida e adormecida
Do sono vai despertar
E com certeza vai melhorar
Pra nunca mais tropeçar.
Além tem personalidade
Para seus filhos quer universidade;
Além quer desenvolvimento
Pra seus filhos terem sustento;
Além quer sentir emoção
Pra seus filhos educação;
Além quer dignidade
Pra seus filhos felicidade;
Além quer ver trabalho
Pra seus filhos um bom salário;
Além quer viver com satisfação
Vendo seus filhos com habitação;
Além quer zelo
Pra ser moça modelo;
Além disse que está na hora
Não quer ver seu filho ir embora;
Além consegue o que quer
Pois em Jesus tem muita fé;
Além só quer o bem
E aos seus filhos também.

(Flavio Monteles)

LÁ TINHA


LÁ TINHA


Estou em lugar qualquer,
Olhando a cada coisa lembro de Alenquer.
Vou ao cineminha
Me contaram que LÁ TINHA
No estádio a peladinha
Ouvir dizer que LÁ TINHA
Assisto ao carnaval
Sei que LÁ TINHA
Folclore ou festival
Isso lembro LÁ TINHA
Se vou dançar uma serestinha
Sei que LÁ TINHA
Brincadeira de criancinha
Isso também LÁ TINHA
Enquanto isso penso no que LÁ TINHA
Tomando uma LATINHA.
Na esperança...
de não ouvir dizer o que LÁ TINHA.
NÃO quero que me digam:
O Acari LÁ TINHA
_ Cachoeira LÁ TINHA
_ Humildade e boa amizade LÁ TINHA
_ Festa de Santo Antonio LÁ TINHA
Quando assisto a TV e vejo:
Assaltos, hum...  não TINHA
Violência,   não TINHA.


MINHA ETERNA NAMORADA




MINHA ETERNA NAMORADA

Nunca consigo esquecê-la, o nosso amor surgiu de uma forma incomum.
Já fui criticado por amá-la tanto assim...
Mas de fato, depois que nos envolvemos não consegui, mas me desprender dos seus braços,
Mas como esquecer a pele desta menina moça, essa morena encantada,
O seu sorriso tímido, e seu olhar meigo
Suas curvas, seus encantos...
O laço que nos prende é forte!
Já vivemos muitos momentos bons, já repartimos tristezas,
E fomos infinitamente confidentes um do outro,
Mas, o coração dela não pode ser somente meu
A sua simplicidade atrai muitos amores,
Na verdade, não fico enciumado por quem a trata bem,
Por que, vejo que ela também fica feliz...
É incrível tantas qualidades
Como pode ser tão humilde, pacata e hospitaleira
Sempre recebendo a todos em sua casa
Repartir seu coração entre homens e mulheres
Sentir-se amada mesmo sendo traída
Por covardes que as vezes lhe fazem mal
Que lhe maltratam, lhe enganam, lhe iludem...
Lhe roubam, lhe ferem e a corrompem...
Fico as vezes decepcionado ....
Viver desta forma?
Como pode uma mulher acolher a todos tão bem,
Amar e ser amada por longos momentos inesquecíveis de prazer
Ser cantada, ser admirada, ser pintada, ser enaltecida,
E ainda sofrer tanto?
Hoje queria convidar os seus enamorados para juntos fazer-lhe
Uma inesquecível serenata, e depois esquentar o papo,
Lembrarmos de nossas histórias de outrora, do que vivemos
Do que passamos, do que rimos e vivemos juntos....
Falar dos nossos segredos,
Dos meus planos...
Do que queria mudar em você se pudesse,
Te entregar muitas flores no dia dos Namorados
E fazer ciúmes aos tantos que te amam...
...Eu te amo tanto...
Você sempre estará em meus pensamentos
Muita audácia a minha em querer concorrer com tantos outros o seu amor...
Logo você uma senhorita... e que tanto respeito,
O tempo não espera! Agora em 2016 são 135 anos que você está fazendo...
Sinceramente não parece...
Quero te amar para sempre, te tocar e te admirar,
Estar sabendo sobre você me fortalece, me anima...
Fico muito puto quando te apelidam: Te chamam de cubinha, de menina sem lei, já me disseram até que você é feia, desorganizada e suja...
Tudo boato, como pode, tamanha discrepância ...
Princesa é linda, é bem tratada,
Não tem como a ver divergências
Te amo minha flor, minha Princesa do Surubiú...
E como te chamam em tempos contemporâneos...
A capital do mundo!
Minha Alenquer!

(Flávio H. Monteles – Junho/2016)



PARA QUE SAIR DAQUI



POEMA ALENQUERENSE: PARA QUE SAIR DAQUI?


"Pra que" sair daqui?
Se aqui que é bom!
Venha aqui que você vai ver!
Se eu contar você não crê
Posso ser matuto
Mas não sou maluco!
Aqui não tem girafa nem elefante
Mas o lugar é interessante.
Não tem iceberg e clima frio
Mas tem serra e peixe no rio
Não tem estátua da Liberdade,
Mas vivemos na paz e felicidade.
Não tem torre Eiffel nem Redentor,
Mas tem um povo alegre e cheio de amor.
Não tem homem bomba nem atentado,
Mas tem gente boa e povo pacato.
Não tem água salgada nem bacalhau,
Mas tem pirarucu e cobra coral.
Não tem Pirâmide nem Maracanã,
Mas tem Praça Cruzeiro e Tucumã.
Não tem Cataratas como do Iguaçu,
Mas tem cachoeiras e arara azul.
Não tem baleia nem tubarão,
Mas tem peixe-boi e camarão.
Não tem frevo e acarajé,
Mas tem tacacá, brega e mulher.
Não tem zona franca nem Ver-o-Peso,
Mas tem Santo Antônio e povo de peso.
Não é Hollywood nem Copacabana,
Mas é cidade de artista e gente bacana.
Não tem Dólar nem Estátua de Zeus,
Mas é Real, é onde estão os amigos meus.
Podem falar dela, mas bem longe de mim,
Porque se eu ouvir não respondo por mim.
Quem aqui pisa não esquece daqui,
Come acari, açaí e fruta marí.
É a terra da união,
Não tem guerra, vulcão nem furacão.
Deus nos proteja com sua mão,

Pois estamos com ele no coração.

DESPEDIDA DO ANTONIO




CONTO: DESPEDIDA DO ANTONIO
Em meados do ano 2000 um marco de fé e religiosidade aconteceu naquela pequena cidade. Tristeza para o povo católico, a torre da imponente igreja matriz estava fissurada. O prédio na verdade precisava de alguns reparos e a solução não foi outra... Parte da torre da matriz havia de ser demolida, muito dispêndio era o que falavam os comunitários. Nunca mais iremos reconstruir diziam outros.
O povo não mediu esforços, quem tinha dava e quem não tinha dava também... Uma coisa boa de morar “em uma terra que ninguém conhece” é que todo mundo ajuda na hora que mais precisamos, falando bem ou mal.
Em pouco tempo, chegaram doações de dinheiro, areia, barro, cimento, tijolos, telhas. Foram feitas campanhas para arrecadação e fundos e brindes para bingos e rifas em prol da reforma.
Havia mão de obra onerosa e gratuita, o povo queria mesmo ver a maior e mais bonita arquitetura erguida novamente, como a perola rara do mais lindo brilhante colar.
A imagem do Antônio, saiu de sua casa e ficou uns dias pelas casas de terceiros que brigavam para instalá-lo. Passou uns dias no bairro da Luanda, Aningal, São Francisco, São Cristóvão, Planalto, e outros lares que nem lembro quais foram.
Tudo foi retirado, as mais belas flores, os mais lindos vasos, os tecidos mais dispendiosos e brilhantes, os mais ... Tudo encaixotado e guardado.
Em uma dessas arrumações a professora Maria José Batista, na época presidente da comunidade do Centro, chegou a sacristia com o olhar de preocupação em resolver aquela situação. Levantou o olhar e uma visão triste estava lá.
Um homem de costas para a porta mexendo entre as gavetas as mais lindas túnicas e amitos. Como se estivesse guardando suas roupas para uma longa viagem.
Emocionada a professora ficou paralisada e agraciada em ver aquela cena de despedida. Quem não chora em despedida. Sua vontade foi de imediato dizer algo, mas, não conseguia em meio tanta emoção. De repente tudo desapareceu, o homem com aspecto de padre desapareceu em segundos.
Era Fernando de Bulhões... Era o Antônio... era o padroeiro do povo católico ximango! Estava arrumando suas malas...
Em pouco tempo tudo estava resolvido, a casa estava arrumada e mais linda como nunca... E aí está a nossa igreja!
Como diz dona Mariinha lá da travessa 10 de Outubro:
_ “Foi mesmo foi?”

_Foi verdade sim! Não é a primeira vez que o Antônio sai e retorna a sua casa!

PEDRO ACÁCIO O CURANDEIRO






PEDRO ACÁCIO 

Franzino, negro benzedor morador da travessa Tiago Serrão, alma protetora, senhor iluminado para benzer o povo da redondeza. Talvez remanescente quilombola e antigo morador das bandas do vilarejo Macupixí.

Quando o menino defecava verde, bocejava sem parar, podia ter certeza é quebranto de fome, quebranto de casa, de fora ou até de ódio. O pessoal antigo logo falava:

_Chamem logo seu Pedro Acácio para benzer!

Vento caído? mau-olhado? Bucho virado? Mal de sete dias? Espinhela caída? Carne rasgada? Pira godê? Tem que levar no rezador. Chama logo seu Pedro Acácio!  Erisipela? Só se cura isso no benzedor!

Em qualquer ocasião, lá estava ele para atender, no dia, na noite ou pela madrugada, sempre com seu tabaco envolvido no papelinho o negro benzedor não media esforços.

Homem da floresta, defensor do que hoje chamam do imaginário e crendices populares, defendia com sabedoria a cura através de remedios da mata, e apesar de falar pouco declamava alguns contos assombrosos de quando residia lá para as bandas do misterioso Rio Curuá - Pa, mas, tinha um sorriso tristonho e olhar fixo, conhecia muito sobre ervas, banha de bicho e seiva de árvores. O curador que pensativo se embalava na sua “rede seca poço” sabe-se lá o que pensando, fazia questão de ajudar quem o procurava.

Lembro daquela menina de alguns meses de vida. Encharcada de feridas por todo o corpo, sua cabeça enlambuzada de tantos cascões e secreções grudavam os finos fios de cabelo, e seu corpo exalava um odor meio “pitiú” de suas feridas. A medicina cientifica colaborou, mas, os remédios e pomadas não amenizavam o sofrimento daquela pequena.

Enquanto todos lamentavam e não sabiam o que fazer, o senhor Pedro Monteles, soldado da borracha lembrou de um antigo amigo.  E chamaram seu  Pedro Acácio, o bom senhor não se negou em colocar em prática suas sabedorias...

Dentro de uma bacia encharcou a menina com folhas de várias ervas, a menina desanimada, fraca, de olhos fechados era observada por todos, até os outros curumins estavam espantados ao redor daquele grande momento de cura mística.

Não se sabe o que tinha dentro daquela porção meio homogênea e oleosa esverdeada. Resultado obtido de óleo de andiroba, folhas de mastruz, babosa, cipó unha de gato.... E tantas outas, que, quem presenciou nem lembra mais.

O benzedor com seu pequeno cigarro porronca pregado nos lábios, este, confeccionado manualmente antes do rito, soltava fumaça que cobria o corpo da pequena e todo o espaço da casa. O benzedor, mantinha os olhos fechados e murmurava:

_ “Deus te remiu, Deus te criou, Deus te livre, de quem para ti mal olhou. Virgem do pranto, tirai este quebranto.” ....... Outros múrmuros não se podia entender e finalizou declamando a santíssima Trindade.

Em poucos minutos, a menina abriu os olhinhos e com um olhar ofegante parecia sorrir para os presentes. E com a benção de Deus obteve o milagre.

 

JACURUTU


JACURUTU

Huuu, huu-huuú, huuu, huuu! As noites silenciosas daquela cidade eram rompidas com as badaladas do soar distante do sino da igreja católica matriz, não se viam pessoas caminhando pelas estreitas e solitárias ruas das intermináveis madrugadas.

            Já diziam os antigos, que as almas saem do cemitério da Piedade ao soar do sino às 00:00h e seguem para a igreja próxima! Dona Julia Rodrigues, que durante muito tempo reside na travessa Santo Antônio confirmou o fato:

_É verdade! Já escutei o barulho e o furdunço daqui de casa nesse horário.

As doze badaladas indicam o chamamento! Da rede só nos resta ficar imaginando, o que pode estar acontecendo. Comentou Rosinaldo Monteiro, que afirmou que pela manhã as velas dos castiçais da igreja dão sinal de que foram acesas na madrugada.

_Nesse horário, gente viva não deve estar na rua! A igreja está lotada de almas!

 Dizia dona Sancha Francisca e com ar de sabedoria dos antigos, contava suas estórias noturnas com seu cachimbo na boca e ao mesmo tempo soltava aquela fumaça fedorenta, mas, que não incomodava os curumins da rua Rosomiro Batista em frente à casa de Dona Maurila Sena na cidade de Alenquer.

A cada badalada nos contava uma estória, e no meio do soar dos sinos, os sons não nos confundia, antes quatro badaladas do sino pequeno em som grave indicavam que logo viriam as outras doze batidas do sino grade, agora em tom mais agudo. No meio do toque que provinha daquela torre, imaginava-se os dois ponteiros do majestoso relógio se encontrando nos quatro lados da torre. Logo em seguida, o som mais aterrorizante chegava... Era Jacurutu cantando! Mas, não são todas as noites que este canto arrepiante ressoa.

Quem já viu diz que se trata de um bicho imponente, de olhos grandes e amarelados, orelhas salientes, garras poderosas e cobertas de penas. Suas majestosas asas açoitam e de dentro da casa pode ouvir a batida durante a decolagem. Disse o compadre Juscelino Santarém, quando observou o bicho lá para as bandas do gapó do Aningal.

Muitas vezes, jacurutu sai em busca de alimentos, dizem que ela carrega criança malcriada. Leva pela garra e põe no ninho para alimentar seu filhote.

Meu Deus! Que Santo Antônio nos defenda! Foi a prece sussurrada pela professora Ana Lucia Chaves.

Não se pode dizer se seu esconderijo é na torre da igreja ou se ela vem do outro lado do rio Surubiú ou Itacarará. Mas, quando ela sobrevoa em cima da canoa do pescador, o bote escapa de afundar com o balanço das águas do lago. O canto dela arrepia, disse Ladico Fróes, pescador das bandas do Bom Lugar, fato confirmado por mestres Genildo e Anselmo lá dos lados do Curicaca.

O que mais amedronta os antigos não são apenas o canto, o menos esperado é que o impiedoso pássaro pouse no telhado e sem dó nem piedade ecoe sua canção!

_Hum, isso é coisa ruim! Está agoirando! Disse Lourdes Honorio, moradora do Arumanzal, no ramal do Cuamba.

Seu Waldemar Rocha! Senhor velhinho, de cabeça branca morador lá prós lado do Escondido, que já tinha visto muito mistério da mata. Disse, que quando Jacurutu pousa no telhado da casa e solta seu canto está anunciando alguém da casa, parente ou da vizinhança que vai partir!

Os antigos, falam que não presta matar Jacurutu, que as outras vem atrás e a situação pode piorar, no máximo tem que enxotar. E se ela passar cantando, imediatamente deve se benzer e dizer:

_Segue teu caminho! Afasta para lá! Vai te embora! Vai chirriar para lá!

_ Chiiii! Chiii! Chiii!

 

(Flavio Monteles - junho /2015 - Alenquer/Pá)