JACURUTU


JACURUTU

Huuu, huu-huuú, huuu, huuu! As noites silenciosas daquela cidade eram rompidas com as badaladas do soar distante do sino da igreja católica matriz, não se viam pessoas caminhando pelas estreitas e solitárias ruas das intermináveis madrugadas.

            Já diziam os antigos, que as almas saem do cemitério da Piedade ao soar do sino às 00:00h e seguem para a igreja próxima! Dona Julia Rodrigues, que durante muito tempo reside na travessa Santo Antônio confirmou o fato:

_É verdade! Já escutei o barulho e o furdunço daqui de casa nesse horário.

As doze badaladas indicam o chamamento! Da rede só nos resta ficar imaginando, o que pode estar acontecendo. Comentou Rosinaldo Monteiro, que afirmou que pela manhã as velas dos castiçais da igreja dão sinal de que foram acesas na madrugada.

_Nesse horário, gente viva não deve estar na rua! A igreja está lotada de almas!

 Dizia dona Sancha Francisca e com ar de sabedoria dos antigos, contava suas estórias noturnas com seu cachimbo na boca e ao mesmo tempo soltava aquela fumaça fedorenta, mas, que não incomodava os curumins da rua Rosomiro Batista em frente à casa de Dona Maurila Sena na cidade de Alenquer.

A cada badalada nos contava uma estória, e no meio do soar dos sinos, os sons não nos confundia, antes quatro badaladas do sino pequeno em som grave indicavam que logo viriam as outras doze batidas do sino grade, agora em tom mais agudo. No meio do toque que provinha daquela torre, imaginava-se os dois ponteiros do majestoso relógio se encontrando nos quatro lados da torre. Logo em seguida, o som mais aterrorizante chegava... Era Jacurutu cantando! Mas, não são todas as noites que este canto arrepiante ressoa.

Quem já viu diz que se trata de um bicho imponente, de olhos grandes e amarelados, orelhas salientes, garras poderosas e cobertas de penas. Suas majestosas asas açoitam e de dentro da casa pode ouvir a batida durante a decolagem. Disse o compadre Juscelino Santarém, quando observou o bicho lá para as bandas do gapó do Aningal.

Muitas vezes, jacurutu sai em busca de alimentos, dizem que ela carrega criança malcriada. Leva pela garra e põe no ninho para alimentar seu filhote.

Meu Deus! Que Santo Antônio nos defenda! Foi a prece sussurrada pela professora Ana Lucia Chaves.

Não se pode dizer se seu esconderijo é na torre da igreja ou se ela vem do outro lado do rio Surubiú ou Itacarará. Mas, quando ela sobrevoa em cima da canoa do pescador, o bote escapa de afundar com o balanço das águas do lago. O canto dela arrepia, disse Ladico Fróes, pescador das bandas do Bom Lugar, fato confirmado por mestres Genildo e Anselmo lá dos lados do Curicaca.

O que mais amedronta os antigos não são apenas o canto, o menos esperado é que o impiedoso pássaro pouse no telhado e sem dó nem piedade ecoe sua canção!

_Hum, isso é coisa ruim! Está agoirando! Disse Lourdes Honorio, moradora do Arumanzal, no ramal do Cuamba.

Seu Waldemar Rocha! Senhor velhinho, de cabeça branca morador lá prós lado do Escondido, que já tinha visto muito mistério da mata. Disse, que quando Jacurutu pousa no telhado da casa e solta seu canto está anunciando alguém da casa, parente ou da vizinhança que vai partir!

Os antigos, falam que não presta matar Jacurutu, que as outras vem atrás e a situação pode piorar, no máximo tem que enxotar. E se ela passar cantando, imediatamente deve se benzer e dizer:

_Segue teu caminho! Afasta para lá! Vai te embora! Vai chirriar para lá!

_ Chiiii! Chiii! Chiii!

 

(Flavio Monteles - junho /2015 - Alenquer/Pá)

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