PEDRO ACÁCIO
Franzino, negro benzedor morador da travessa Tiago Serrão, alma
protetora, senhor iluminado para benzer o povo da redondeza. Talvez
remanescente quilombola e antigo morador das bandas do vilarejo Macupixí.
Quando o menino defecava verde, bocejava sem parar, podia ter certeza é
quebranto de fome, quebranto de casa, de fora ou até de ódio. O pessoal antigo logo
falava:
_Chamem logo seu Pedro Acácio para benzer!
Vento caído? mau-olhado? Bucho virado? Mal de sete dias? Espinhela caída? Carne rasgada? Pira
godê? Tem que levar no rezador. Chama logo seu Pedro Acácio! Erisipela? Só se cura isso no benzedor!
Em qualquer ocasião, lá estava ele para atender, no dia, na noite ou
pela madrugada, sempre com seu tabaco envolvido no papelinho o negro benzedor
não media esforços.
Homem da floresta, defensor do que hoje chamam do imaginário e crendices
populares, defendia com sabedoria a cura através de remedios da mata, e apesar
de falar pouco declamava alguns contos assombrosos de quando residia lá para as
bandas do misterioso Rio Curuá - Pa, mas, tinha um sorriso tristonho e olhar
fixo, conhecia muito sobre ervas, banha de bicho e seiva de árvores. O curador
que pensativo se embalava na sua “rede seca poço” sabe-se lá o que pensando,
fazia questão de ajudar quem o procurava.
Lembro daquela menina de alguns meses de vida. Encharcada de feridas por
todo o corpo, sua cabeça enlambuzada de tantos cascões e secreções grudavam os
finos fios de cabelo, e seu corpo exalava um odor meio “pitiú” de suas
feridas. A medicina cientifica colaborou, mas, os remédios e pomadas não
amenizavam o sofrimento daquela pequena.
Enquanto todos lamentavam e não sabiam o que fazer, o senhor Pedro
Monteles, soldado da borracha lembrou de um antigo amigo. E chamaram
seu Pedro Acácio, o bom senhor não se negou em colocar em prática suas
sabedorias...
Dentro de uma bacia encharcou a menina com folhas de várias ervas, a
menina desanimada, fraca, de olhos fechados era observada por todos, até os
outros curumins estavam espantados ao redor daquele grande momento de cura
mística.
Não se sabe o que tinha dentro daquela porção meio homogênea e oleosa
esverdeada. Resultado obtido de óleo de andiroba, folhas de mastruz, babosa,
cipó unha de gato.... E tantas outas, que, quem presenciou nem lembra mais.
O benzedor com seu pequeno cigarro porronca pregado nos lábios, este,
confeccionado manualmente antes do rito, soltava fumaça que cobria o corpo da
pequena e todo o espaço da casa. O benzedor, mantinha os olhos fechados e
murmurava:
_ “Deus te remiu, Deus te criou, Deus te livre, de quem para ti mal
olhou. Virgem do pranto, tirai este quebranto.” ....... Outros múrmuros não se podia entender e finalizou declamando a
santíssima Trindade.
Em poucos minutos, a menina abriu os olhinhos e com um olhar ofegante
parecia sorrir para os presentes. E com a benção de Deus obteve o milagre.
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