AMIGO DE VERDADE
ALÉM NÃO CANSA
...ALÉM NÃO CANSA....
DEUS É ALENQUERENSE SEM DÚVIDA!
TERRA XIMANGA
PRECES A SANTO ANTONIO DE ALENQUER
SOU DE ALÉM
LÁ TINHA
MINHA ETERNA NAMORADA
PARA QUE SAIR DAQUI
"Pra que" sair daqui?
Se aqui que é bom!
Venha aqui que você vai ver!
Se eu contar você não crê
Posso ser matuto
Mas não sou maluco!
Aqui não tem girafa nem elefante
Mas o lugar é interessante.
Não tem iceberg e clima frio
Mas tem serra e peixe no rio
Não tem estátua da Liberdade,
Mas vivemos na paz e felicidade.
Não tem torre Eiffel nem Redentor,
Mas tem um povo alegre e cheio de amor.
Não tem homem bomba nem atentado,
Mas tem gente boa e povo pacato.
Não tem água salgada nem bacalhau,
Mas tem pirarucu e cobra coral.
Não tem Pirâmide nem Maracanã,
Mas tem Praça Cruzeiro e Tucumã.
Não tem Cataratas como do Iguaçu,
Mas tem cachoeiras e arara azul.
Não tem baleia nem tubarão,
Mas tem peixe-boi e camarão.
Não tem frevo e acarajé,
Mas tem tacacá, brega e mulher.
Não tem zona franca nem Ver-o-Peso,
Mas tem Santo Antônio e povo de peso.
Não é Hollywood nem Copacabana,
Mas é cidade de artista e gente bacana.
Não tem Dólar nem Estátua de Zeus,
Mas é Real, é onde estão os amigos meus.
Podem falar dela, mas bem longe de mim,
Porque se eu ouvir não respondo por mim.
Quem aqui pisa não esquece daqui,
Come acari, açaí e fruta marí.
É a terra da união,
Não tem guerra, vulcão nem furacão.
Deus nos proteja com sua mão,
Pois estamos com ele no coração.
DESPEDIDA DO ANTONIO
PEDRO ACÁCIO O CURANDEIRO
PEDRO ACÁCIO
Franzino, negro benzedor morador da travessa Tiago Serrão, alma
protetora, senhor iluminado para benzer o povo da redondeza. Talvez
remanescente quilombola e antigo morador das bandas do vilarejo Macupixí.
Quando o menino defecava verde, bocejava sem parar, podia ter certeza é
quebranto de fome, quebranto de casa, de fora ou até de ódio. O pessoal antigo logo
falava:
_Chamem logo seu Pedro Acácio para benzer!
Vento caído? mau-olhado? Bucho virado? Mal de sete dias? Espinhela caída? Carne rasgada? Pira
godê? Tem que levar no rezador. Chama logo seu Pedro Acácio! Erisipela? Só se cura isso no benzedor!
Em qualquer ocasião, lá estava ele para atender, no dia, na noite ou
pela madrugada, sempre com seu tabaco envolvido no papelinho o negro benzedor
não media esforços.
Homem da floresta, defensor do que hoje chamam do imaginário e crendices
populares, defendia com sabedoria a cura através de remedios da mata, e apesar
de falar pouco declamava alguns contos assombrosos de quando residia lá para as
bandas do misterioso Rio Curuá - Pa, mas, tinha um sorriso tristonho e olhar
fixo, conhecia muito sobre ervas, banha de bicho e seiva de árvores. O curador
que pensativo se embalava na sua “rede seca poço” sabe-se lá o que pensando,
fazia questão de ajudar quem o procurava.
Lembro daquela menina de alguns meses de vida. Encharcada de feridas por
todo o corpo, sua cabeça enlambuzada de tantos cascões e secreções grudavam os
finos fios de cabelo, e seu corpo exalava um odor meio “pitiú” de suas
feridas. A medicina cientifica colaborou, mas, os remédios e pomadas não
amenizavam o sofrimento daquela pequena.
Enquanto todos lamentavam e não sabiam o que fazer, o senhor Pedro
Monteles, soldado da borracha lembrou de um antigo amigo. E chamaram
seu Pedro Acácio, o bom senhor não se negou em colocar em prática suas
sabedorias...
Dentro de uma bacia encharcou a menina com folhas de várias ervas, a
menina desanimada, fraca, de olhos fechados era observada por todos, até os
outros curumins estavam espantados ao redor daquele grande momento de cura
mística.
Não se sabe o que tinha dentro daquela porção meio homogênea e oleosa
esverdeada. Resultado obtido de óleo de andiroba, folhas de mastruz, babosa,
cipó unha de gato.... E tantas outas, que, quem presenciou nem lembra mais.
O benzedor com seu pequeno cigarro porronca pregado nos lábios, este,
confeccionado manualmente antes do rito, soltava fumaça que cobria o corpo da
pequena e todo o espaço da casa. O benzedor, mantinha os olhos fechados e
murmurava:
_ “Deus te remiu, Deus te criou, Deus te livre, de quem para ti mal
olhou. Virgem do pranto, tirai este quebranto.” ....... Outros múrmuros não se podia entender e finalizou declamando a
santíssima Trindade.
Em poucos minutos, a menina abriu os olhinhos e com um olhar ofegante
parecia sorrir para os presentes. E com a benção de Deus obteve o milagre.
JACURUTU
JACURUTU
Huuu, huu-huuú, huuu, huuu! As noites
silenciosas daquela cidade eram rompidas com as badaladas do soar distante do
sino da igreja católica matriz, não se viam pessoas caminhando pelas estreitas
e solitárias ruas das intermináveis madrugadas.
Já
diziam os antigos, que as almas saem do cemitério da Piedade ao soar do sino às
00:00h e seguem para a igreja próxima! Dona Julia Rodrigues, que durante muito
tempo reside na travessa Santo Antônio confirmou o fato:
_É verdade! Já escutei o barulho e o
furdunço daqui de casa nesse horário.
As doze badaladas indicam o chamamento!
Da rede só nos resta ficar imaginando, o que pode estar acontecendo. Comentou
Rosinaldo Monteiro, que afirmou que pela manhã as velas dos castiçais da igreja
dão sinal de que foram acesas na madrugada.
_Nesse horário, gente viva não
deve estar na rua! A igreja está lotada de almas!
Dizia dona Sancha Francisca e com ar de
sabedoria dos antigos, contava suas estórias noturnas com seu cachimbo na boca
e ao mesmo tempo soltava aquela fumaça fedorenta, mas, que não incomodava os
curumins da rua Rosomiro Batista em frente à casa de Dona Maurila Sena na
cidade de Alenquer.
A cada badalada nos contava uma estória,
e no meio do soar dos sinos, os sons não nos confundia, antes quatro badaladas
do sino pequeno em som grave indicavam que logo viriam as outras doze batidas
do sino grade, agora em tom mais agudo. No meio do toque que provinha daquela
torre, imaginava-se os dois ponteiros do majestoso relógio se encontrando nos
quatro lados da torre. Logo em seguida, o som mais aterrorizante chegava... Era
Jacurutu cantando! Mas, não são todas as noites que este canto arrepiante ressoa.
Quem já viu diz que se trata de um bicho
imponente, de olhos grandes e amarelados, orelhas salientes, garras poderosas e
cobertas de penas. Suas majestosas asas açoitam e de dentro da casa pode ouvir
a batida durante a decolagem. Disse o compadre Juscelino Santarém, quando
observou o bicho lá para as bandas do gapó do Aningal.
Muitas vezes, jacurutu sai em busca de
alimentos, dizem que ela carrega criança malcriada. Leva pela garra e põe no
ninho para alimentar seu filhote.
Meu Deus! Que Santo Antônio nos defenda!
Foi a prece sussurrada pela professora Ana Lucia Chaves.
Não se pode dizer se seu esconderijo é
na torre da igreja ou se ela vem do outro lado do rio Surubiú ou Itacarará.
Mas, quando ela sobrevoa em cima da canoa do pescador, o bote escapa de afundar
com o balanço das águas do lago. O canto dela arrepia, disse Ladico Fróes,
pescador das bandas do Bom Lugar, fato confirmado por mestres Genildo e Anselmo
lá dos lados do Curicaca.
O que mais amedronta os antigos não são
apenas o canto, o menos esperado é que o impiedoso pássaro pouse no telhado e
sem dó nem piedade ecoe sua canção!
_Hum,
isso é coisa ruim! Está agoirando! Disse Lourdes Honorio, moradora do Arumanzal,
no ramal do Cuamba.
Seu Waldemar Rocha! Senhor velhinho, de
cabeça branca morador lá prós lado do Escondido, que já tinha visto muito
mistério da mata. Disse, que quando Jacurutu pousa no telhado da casa e solta
seu canto está anunciando alguém da casa, parente ou da vizinhança que vai partir!
Os antigos, falam que não presta matar
Jacurutu, que as outras vem atrás e a situação pode piorar, no máximo tem que
enxotar. E se ela passar cantando, imediatamente deve se benzer e dizer:
_Segue
teu caminho! Afasta para lá! Vai te embora! Vai chirriar para lá!
_ Chiiii! Chiii! Chiii!
(Flavio
Monteles - junho /2015 - Alenquer/Pá)